terça-feira, 17 de junho de 2008

Atilino

Era um bichinho estranho. Sempre foi assim. 3 patas. 4 antenas e 2
rabos. E mesmo com tamanha estranheza conseguia ser engraçadinho.
Engraçado que ele não era assim exatamente como um patinho feio. Não
tinha nada de pato. Só um pouco de feio. Andava cambaleando e ainda
não sentia sequer falta de uma família.


Na verdade, o grande dilema do bichinho estranho, era que ele não
sabia o que era. E incrivelmente, era feliz por isso.Talvez, saber demais pudesse deixá-lo assustado. Ele não reclamava de ser assim, simplesmente jogado no mundo.
Ao contrário de tantos, que tanto contrariam essa desvantagem. Atilino gostava de ser assim.

Atilino? Que invenção de nome é essa?

Para ter 3 patas, 4 antenas e 2 rabos, ele só podia ganhar um nome
assim, talvez algo que remeta a uma combinação de 3 nomes bem
diferentes.


Atilino andava devagar, brincando com o tempo. Na verdade, ele não
sentia cheiro algum, porque deixou de sentir desde que tombou o
nariz ( que por sinal era no meio da testa) em plena árvore de um
deserto.


Como pode? onde aquela árvore foi parar ali? Era um pé de pitanga.

A partir desse dia, Atilino quando acha que uma coisa é cheirosa, diz
que tem cheiro de pitanga.Mesmo sem saber. Ele só sabe que é bom.

Atilino já quis ser desenhista. Mas ele não sabia o que fazer com tanta pata.

o que é o sonho de muito desenhista por ai no mundo afora, é apenas
mais uma indecisão pra Atilino.

Atilino, usa a criatividade: duas patas desenham e uma coça as costas.
ou manda flores para alguém.


O máximo que Atilino fez com tanta pata para ficar feliz foi brincar
de zerinho ou um sozinho. Ele até tentou brincar de pedra, papel e
tesoura. Mas aí se deu conta que só precisava de duas mãos.


Brincar sozinho começou a deixar o bichinho entediado.

E em uma de suas tardes de solidão, ele viu outro bichinho esquisito.

Bichinho não, porque o nome dela é Carafácia.

Ela era estranha que nem Atilino. Aó estranha, porque diferença é que
não faltava nos dois. O que ele tinha demais de antena, faltava nela.
e quem já viu uma menina de 3 rabinhos?

Atilino chamou Carafacia para brincar e ela impôs uma condição:
eu só brinco se você adivinhar o cheiro que tem essa flor que eu
trouxe para você.

Atilino se perdeu entre tantas patas. Se perdeu no medo. Parecia que
ele estava fadado a ficar sozinho.

e respondeu:

não sei. Só sei que parece Pitanga.

Carafácia virou as costas e seguiu em frente.

Enquanto isso, Atilino se conformou com um descanso, enquanto brincava
de zerinho ou um.

segunda-feira, 5 de maio de 2008

Sem escalas

Tinha fascínio por aviões. Até hoje, ele nunca foi capaz de entender se o medo de avião era ainda maior do que o seu fascínio por eles. Toda vez que ele entrava em um avião, já pensava na possibilidade de morrer. E rápido. O que é deveras contraditório, afinal, a despedida, que muito o lembra o avião, acabava matando-o lentamente. Eram dias alternados entre saudades e solidão. Por um outro instante, ele lembrou que não gostava da janela do avião. Ela não não era recomendada para esse tipo de pessoa, assim que nem ele, que sempre olha para trás. Mesmo que a lembrança por vezes o machuque, ele só sossega assim. Consumando a curiosidade sem pensar muito nos seus sentimentos. E foi assim, que por entre nuvens, ele descobriu alguém. Pouco a pouco, ele descobriu, que na verdade, nem havia entrado no avião. O medo da saudades e a dor da despedida teriam sido tão grandes que ele só poderia compará~las a seu maior medo. O medo deo avião.

terça-feira, 15 de abril de 2008

Quebra-cabeça

Era um dia incomum na vida dela. Sempre, ela reclamava que todos os dias eram iguais. E agora que estava diferente, ela começava a sentir falta daquela antiga calma.

Foi nesse dia que ela descobriu que perdeu um pedacinho do coração. Meu deus. Como podia ser assim tão boba a ponto de deixar um pedaço de um coração por aí, sem cuidados.

Ela começou a inventar mil maneiras de enganar aquele coração que ficou, que teimava em continuar no mesmo lugar, embora estivesse sem o tal pedaço.

Por que eu não perdi o coração inteiro e apenas não fiquei com um pedacinho? De repente, eu poderia tomar conta dele. Seria até mais fácil. Era só colocá-lo numa caixinha de fósforo. Ou quem sabe, numa caixinha de música para dar sorte todo dia antes de dormir.

Bom, um pedaço de um coração dentro de uma caixinha de fósforo pode não ser uma boa idéia. Imagine, um coração derretido, ou explodindo por aí na mão de qualquer um.

O pior era, aquele coração ali que ficou, incomodava bastante sem o pedaço. Ela tentava esquecer. Tentava colocar um pedaço de algodão para colar as partes.

Tentava fazer um pedacinho de papel colorido, misturado com massinha de modelar vermelha. Mas não adiantava enganar o coração. Ele não era bobo.


- Ah já sei. Foi um pombo que pegou.

Nossa. Logo um pombo? Ela não era lá muito chegada a pombo.

Foi aí que ela sentiu um cheiro. Algo assim que imsturava música, melodia, algumas risadas e uns pensamentos escondidos.

Ela sentiu o aroma de algo que foi bom, mas que se perdeu no tempo. Então, a menina descobriu que na verdade, estava aprendendo a se defender.

Ela teve tanto medo de que aquela sensação de coração batendo e mãos trêmulas passasse, que ela mesma arrancou o pedacinho do coração. Foi algo assim, meio bobo. Mas e daí? Desde quando ter insônia por pouco era maduro?

Nessa brincadeira de tentar achar o pedaço do coração, e nessa confusão sem fim, a menina cansou tanto que desistiu de encontrá-lo.

Ela lá nunca foi muito boa nisso de quebra-cabeças.

Ah, vai ver que era isso.

Ela começou a sentir medo. E um monte de sentimento misturado assim, ao mesmo tempo.

E foi assim, que descobriu uma coisa. Sem querer, já estava brincando de quebra-cabeça.

E nessa história toda, ela não conseguia encaixar muita coisa. Isso dava agonia, mão trêmula e até coração sem pedaço batendo do mesmo jeito.

sábado, 22 de março de 2008

Tic Tac

Eram exatamente 5 da tarde. mais 5 minutos de pôr do sol e alguns
segundos de indecisão.

Ela tirava o celular da bolsa a cada dois minutos. virava pelo avesso
cada detalhe que carregava naquela tarde insana.

em uma dessas loucura, deixou cair um chiclete e mais 5 papéis de não
sei o que mais e não sei onde. Um desses papéis que servem para as
pessoas acumularem sem motivo, e quando jogarem fora, aí sim. Vão
sentir que de alguma forma, se livraram de um peso ai qualquer.

mesmo que seja um peso de papel.

mas isso não funcionou para ela.

nem o jogo do celular novo. nem tampouco as mensagens de confidências
de amigos que ela teimava em ler toda vez que sentia medo, ou que
fingia não estar um pouco nervosa no consultório do dentista.

Na verdade, ela não sabia de onde vinha essa mania de toda vez olhar a
hora quando tivesse que tomar uma decisão. Era como se o ponteiro
tivesse a obrigação de trazer a resposta a cada 360 graus. ou um pouco
menos. talvez 187 graus. já que ela era ansiosa.

mas aí ela finalmente chegava à conclusão de que o relógio nem de ponteiro era.

e agora, o que fazer? fingir que escutou alguma coisa de algum
estranho no meio da rua? fingir que estava atenta a cada detalhe das
conversa com os amigos? não se sabe.

só sabia que de alguma forma, o coração parecia meio acelerado.
mas ela acabava colocando a culpa na mãe. afinal, era dela culpa de todos os seus problemas.

que culpa eu podia ter de nascer assim? já com o coração acelerado e
as mãos um pouco trêmulas por qualquer conversa boba.

ela continuava indecisa.

tentou lembrar da ultima vez que comeu jujuba. ou pelo menos da
penúltima que brincou com um cachorro ai qualquer de rua. que fez cena
para pedir um doce. ou chorou só por que esqueceu a passagem em casa.

viver parecia realmente ficar difícil em um momento como aquele.

de repente, ela começou a lembrar da última vez que tentou beijar
apaixonada. da última vez que falou só com o olhar. por que só o olhar
basta, mesmo quando a boca estava bem mais perto do que devia.

aliás. devia muito.

devia ficar ali para sempre. porque em um desses momentos, ela
esquecia atá a tabuada de cinco.

mas ai, de repente, começava a contar os minutos para adiar qualquer despedida.

e em um desses instantes, ela notou que já estava fazendo malabarismo
com a tabuada de nove.

por favor, fala alguma coisa. eu quero ouvir a sua voz.

e nada da decisão decidir. e nada do ponteiro do relógio mexer.

mas que menina teimosa. o relógio não tinha ponteiro.

mas ela só queria saber do ponteiro do relógio . o ponteiro que não existia.

ela só queria saber daquele momento que não existiu. da decisão que
nunca ia tomar.

mais, de uma hora para outra, ela não queria saber mais de nada. de
beijo. de loucura. de momento.

ela queria ser astronauta. queria voltar no tempo e poder fazer o que não fez.

então, ela saiu de casa. desta vez sem bolsa. correu em direção a ele.

e no meio do nada, deu um beijo bem no canto da boca.

e simplesmente, saiu correndo.

viu que não era nada daquilo. ainda lembrava da tabuada de cinco.
errava a tabuada de nove. e sentiu a vermelhidão na bochecha que mal
sentia.

de repente, ela começou a sentir que, sem querer ,tinha adiantado o
ponteiro do relogio. e como ela era esperta até demais, adiantar as horas significava um pouco mais de 187 graus de indecisão, ansiedade e algumas dúvidas a mais.

e o menino, que não era nem esperto para saber se gostava dela, só queria saber do jogo de botão.

E ai se a menina soubesse que ele errou o gol porque gostou do beijo.

Aí sim. Ela ia acabar precisando de um relojoeiro.

quinta-feira, 31 de janeiro de 2008

Amar-elo

Eu ainda realizo o sonho de publicar um livro infantil =)



Era uma vez uma menina que se apaixonava por várias coisas que via. A primeira paixão dessa menina foi uma borboleta. Muitos suspeitam que por causa disso ela começou a se apaixonar tanto. Porque desde então, ela sentia borboletas no estômago todo
santo dia.

A segunda paixão dessa menina foi a cor amarelo. A cor amarelo nunca foi a cor do seu quarto. Mas um um dia sem querer, pediram-na emprestado o lápis de cor amarelo. E ela se deu conta que ele havia sumido.

A menina, que quase ficou amarela, começou a pensar nesse pobre lápis que se perdeu por incontáveis segundos, minutos, horas e contáveis dois dias.

Como pode? Será que ele virou azul?

Já que pensar tanto nesse lápis começou a ficar angustiante, a menina resolveu resolver o problema: o lápis acabou porque havia pintado o sol.

E ele é muito grande, né?

E foi daí que nasceu um problemão: ela se deu conta que se apaixonou pelo sol.

Será que foi assim que ela descobrira o amor platônico?

Ah já sei. Amor platônico é isso. É algo que está tão longe que a gente não consegue ver.Não pode pegar, não pode sentir. O que essa menina não descobrira ainda, afinal ela era muito nova, era que longe pode significar perto, quando são as almas que não se tocam.

Mas voltando ao que deixava a menina sem ver o sol. Ela não conseguia ver duas vezes. Que luz forte essa do Sol, viu? Deve ser por isso que o amor é cego.

eita, mais uma descoberta para um coração pequenino.

Mas o que a menina não sabia é que coração pequenino também significa um coração apertado por uma dor. Essa dor é muitas vezes de saudades.

Havia pouco tempo que ela conheceu o Sol. Ele nao era nada perfeito. Ele não era aquele solzinho cheio de sorrisos típico de embalagem de iogurte. ele era normal. um sol qualquer por ai.

E por que então, então pouquinho tempo, ela se apegou ao Sol? O sol lembrava o lápis de cor amarelo.

E para ela, não havia nada mais ingênuo do que um lápis de cor amarelo.

Então era isso. As borboletas no estômago começaram a nascer amarelinhas.A saudade começou a ficar amarela.

Era saudades do que ela ainda nem conhecia. mas só sabia que era bom.

De repente ela começou a esquecer o sol. ai vieram as nuvens. de tanto dormir pensando no sol, ela começou a contar carneirinho para não dormir.

Porque pra menina, era o contrário: contar carneirinho significa pensar em carneirinho. Assim ela não dormia.

E no pequeno dicionário das paixonites agudas da menina, insônia é quando você começa a pensar tanto em alguém que nem dorme.

Mas de tanto contar carneirinho, ela um dia acabou dormindo de verdade e sonhou com as nuvens.

As nuvens a protegiam. as nuvens pareciam doce. só pareciam. ela nunca havia experimentado o algodão-doce.

Foi aí que ela descobriu o amor carinhoso. O amor fofinho. Mais fofinho do que um bichinho de pelúcia.

Um dia, ela sem querer sonhou que caíra das nuvens.

Mas desse tombo, que nem doeu tanto assim, em comparação ao tombo do sol,ela caiu no chão.

Lá estava a menina no chão. sem paixão. com borboletas que começaram a escapar do estômago.

como pode? foi aí que ela viu pela primeira vez um algodão-doce.

o que era aquilo? Viu não. Avistou.

Era uma nuvenzinha do tamanho do meu coração?

Ela começou a correr pra cada vez ficar mais perto. Diferente do Sol, desta vez, ela podia se aproximar. E diferente das nuvens, ela nào precisava sonhar tanto.

Foi ai que ela viu que o algodão-doce escondia um rosto. um rosto tão comum que ela nunca tinha visto de verdade.


A menina se apaixonou por um menino de coração tão pequeno como o dela.

Borboletas vermelhas começaram a se aproximar dos dois. Vermelhas porque o tal menino gostava de vermelho. E diferente da menina, ele nem ligava pra essa coisa de paixão. Então, como no dicionário da menina, vermelho é a cor que mais fácil lembra o amor, que assim seja.

De todo jeito, o menino ofereceu um algodao-doce e um lápis amarelo.

lápis amarelo?

Não importa. a Menina tava tão encantada que acha que é amarelo.

Se é amarelo, quem sabe?

Só sei que com ele, ela começou a desenhar um sol, uma nuvem, uma menina, um menino, um algodão-doce e duas borboletas para cada coração:

amarelo e vermelho.

Guardou tudo e colocou em um envelope. Quando já ia colocar na caixinha do correio, lembrou: esse menino nem mora tão longe como o Sol. Ele pode receber essa cartinha das minhas mãos.

E como agora essa tal paixão nem platônica era, a menina se deu conta que precisava de um relógio.

terça-feira, 29 de janeiro de 2008

Recreio

Eram 15 minutos que faziam valer o dia.

E quando se diz Valer o dia. Era porque, simplesmente, ela só acordava porque pensava no recreio.

- Acorda, Maria Júlia. Acorda.

E isso se repetia pelos mesmos dias. Aí ela pensava em coxinha. Pensava em chiclete. Pensava na aula chata de matemática. Mas entre essa e aquela aula jurássica de história, tinha o recreio. Aqueles exatos 15 minutos.

O tempo suficiente para fazer o coração de Júlia acelerar.

É verdade que no recreio, acontece muita coisa. Mas para o coração de Júlia, tudo mudou.

Ele ganhou o mundo. E foi no recreio, que ela se apaixonou.

Ele era um menino preguiçoso. Andava sozinho, não falava com ninguém além dos seus cadarços que quase sempre andavam desamarrados.

Mas não era por isso que ele tropeçava tanto.

Faltava um pouco de atenção. E talvez, por faltar atenção, ele tenha despertado a atenção dela.

Agora, Júlia não mais demorava para acordar, Ela ao contrário, dava um abraço de bom dia na cama da mãe. O problema é que Júlia não mais dormia como antes.

Ela começou a dividir o tempo de insônia em pequenas frações de recreio.

A hora da coxinha. A hora de ver aquele menino. A hora em que ele tropeçava.

E finalmente, quando chegava na aula de história, Júlia começava a dormir.

E haja história para sonhar.

O que podia ser felicidade, chegava a apertar o coração da menina: chegava o fim de semana. E agora? Deveriam inventar o recreio nesses tais dias inúteis. Era assim que Júlia entendia um dia que não era útil.

Mas tudo bem, é o preço que se paga por passar dois dias sem matemática: sem recreio também.

Mas finalmente chegou a segunda-feira. o primeiro dia da semana. O primeiro recreio da semana. Uma segunda que para muitos significava saudades , para ela era um misto de sono mal-acostumado e hora de acabar com a saudade.

E lá estava chegando o menino. Assustado, de cadarços desamarrados. olhando para o chão. E de repente , como sempre, ele tropeça.

Bem que Júlia sentiu que essa segunda não era comum. Ela esperou tanto para o dia chegar que até parecia que esperava por algo que ia acontecer.

O menino tropeçou no pé de Júlia.

Passaram alguns segundos se olhando. Eram apenas segundos, mas que pareciam um recreio inteiro.

- qual o seu nome?

- João.

O menino saiu correndo com as bochechas rosadas. E no meio do caminho, quando Júlia ainda o procurava com o olhar de alegria, ele parou.

lentamente amarrou o cadarço.

Porque naquele dia, justo naquela segunda-feira, o recreio passou a ser diferente também para o menino.

O menino não tem cara de João, tem cara de amor.

Precisamente, de primeiro amor

terça-feira, 1 de janeiro de 2008

Procura-se um Post Meloso

Procura- se um mundo perfeito para se viver.

Um mundo daqueles sem comparação, ou que torne qualquer comparação um pouco menos piegas.

Procura-se um mundo perfeito onde os nomes têm a cara das pessoas.

Quem se chama Valdêncio tem cara de pinha estragada.

Quem se chama Júlia tem cara de menina sapeca e pequena.

Lá provavelmente meu nome teria mais de 10 letras. ( quem mandou ser grande?).

Procura-se esse mundo perfeito onde não existem sonhos. Pra quê sonhar e estragar tudo?

Procuram-se beijos de bom dia com gosto de café da manhã na cama, e nada de hálito ruim.

Procuram-se bom dias verdadeiros, com sinceridade no olhar e menos trato na alma.

Cadê?

Onde você colocou aquele lixeiro cheio de relógios?

Procura-se ainda esse mundo, onde em vez de colecionar relógios, as pessoas colecionam horas.

Não mais aquelas horas perdidas, ou mesmo ociosas.

Procura-se um mundo com gavetas incontáveis de horas felizes.

Onde está aquele mundo em que basta encostar a cabeça no peito para ouvir um riso?

Procura-se um mundo com mais praças. Mais bancos e menos jornais.

Procura-se um mundo onde pessoas "lêem" albuns de figurinha no banco da praça.

Procura-se um mundo onde, pelo menos 3 vezes durante a vida, você pode voltar ao tempo.

Procura-se esse mundo, onde os seres de outro mundo são Ets de pelúcia.

Procura-se esse mundo onde o importante só é competir, quando todo mundo pode ganhar.

Cadê esse mundo onde insônia só existe porque é bom ficar acordado?

Procura-se um mundo onde você não idealiza pessoas. Só o mundo.

Cadê esse mundo onde só há gritos de prazer?

Cadê esse mundo onda há valsa de madrugada? Onde só existe buzina do carrinho de pipoca e onde existe uma lei que obrigue essa pipoca de rua ser de graça?

Nesse mundo, abraçar significa realmente estar perto.

Procura-se esse mundo, exatamente esse, onde você pode perder a hora cada vez que se apaixona.

Procura-se esse mundo onde despedida tem gosto de chocolate.

Onde o elevador é a pior parte do dia.

Procura-se esse mundo onde nenhuma pessoa vai embora. E no dia que ela for, não se preocupe. Amanhã ela vai estar exatamente no lugar onde você a deixou.

Procura-se tristeza, porque você provavelmente não vai encontrar esse mundo.


E para quem achar, a recompensa é um mundo cheio de ilusão.

quarta-feira, 17 de outubro de 2007

Procura-se uma caixinha amarela

Deve existir um lugar chamado terra da saudade. Só pode. Às vezes, a velocidade das coisas chega a me assustar. Fico pensando em tanta coisa boa que já vivi, em tanto que vou viver ainda. E aquela dúvida bate: pra onde vai tanta coisa boa?
Não adiantam as caixas de cartinhas guardadas no fundo do guarda-roupa. Não adianta acumular porta-retratos, transformando-os em lindas casinhas de vidro para traças.
Não adianta acumular pastas e mais pastas de arquivos cheio de lembranças.
Não é suficiente. Nem se a gente vivesse 3 vidas a mais, ia conseguir guardar tanta saudades de uma vida só.
Isso porque, nem sempre foto significa o melhor da vida.
E aquela declaração de amor no meio de uma terça-feira depois do almoço, em pleno MSN?
Que provavelmente, o histórico não guardou.
E aquele encontro casual, no meio do nada, sem esperar, acompanhado de um olhar ou um sorriso?
E aquele elogio, aquela declaração sincera de uma pessoa, no meio do nada? Justo daquela pessoa que a gente nem imaginava que gostava da gente. As vezes até, era mais fácil torcer o nariz do que tentar entender a diferença.
Carnavais vão se misturando. Músicas vão criando outros ritmos. Até as pessoas vão se reinventando em outras formas de amar.
E a saudade daquele dia que pude ficar em casa, encontrei um chocolate no armário e assisti a um filme de infância?
Onde guardo essa saudade? Onde encontro essa câmera digital que guardei tanto sentimento?
Onde posso voltar no tempo aquela cena linda de um filme, que já voltei tantas vezes no videocassete?
Agora imagine que caos é essa terra da saudade. Um caos cheio de felicidade. As pessoas vão andando e contornando um monte de caixinhas. Cada tropeço deve ser um motivo de riso e alegria:
Opa, tropecei aqui no meu primeiro beijo. Nossa, que cara de nojo foi essa??
E aquela caixa grande ali, que ninguém pode abrir? Escondidinha...
Cuidado! Só uma pessoa pode abrir.

E assim se vão as lembranças. A terra da saudade, ou melhor, a terra das caixinhas de saudades. Sem fim. Cheia de alegria.
Eu queria morar lá.
Mas o tempo passa e fico feliz em saber que minha coleção de caixinhas vai ficar ainda maior.
No meio delas, deve ter uma amarela.
Eu sinto saudades do amarelo.

domingo, 14 de outubro de 2007

Casablanca

Eu queria te dizer uma coisa.

Queria dizer que são poucas as pessoas que conseguem fazer isso com a nossa vida.

E o pior. Quando essas pessoas aparecem, elas normalmente aparecem no momento errado.

Momento inexato. A falta de exatidão é tão grande, que parece que foi calculada.

Ou não. Talvez o momento, é que na verdade, intensifica as pessoas.

Queria dizer que uma lágrima é pouco pra segurar qualquer ansiedade.

Uma lágrima não é nada. Ela não consegue fazer isso sozinha, mas incrivelmente ela ajuda muito.

Queria dizer que sou instável. Não do tipo de instabilidade neurótica, que você vai ter vontade de correr e dobrar na primeira esquina quando eu lançar os primeiros sinais de mudança de humor.

Sou instável agora. Porque infelizmente, você me balançou.

Têm pessoas que aparecem na nossa frente, simplesmente pra mostrar o quanto
você não é normal.

O quanto você pode ser uma coisa e ser outra no outro dia.

O quanto você pode gostar e detestar ao mesmo tempo.

O quanto você quer muito, com tanta intensidade. Ao mesmo tempo que odeia querer tanto assim de vez em quando. Porque eu queria que fosse só de vez em quando.

É tudo desigual.

Como pode?

Parece simples. Pelo menos parecia simples. Precisa ser simples.

Aliás, é muito simples. Era só você não ter me balançado.

Era só não ter aparecido. Ou eu.

Acho que no fundo,não vai adiantar ansiedade. ( e alguma vez, já adiantou?)

Talvez o tempo adiante. Ele devia adiantar pelo menos, algumas horas. Alguns dias. Alguns meses.

Ou talvez o momento que você foge do silêncio. Desse silêncio louco. Instável.

Que corra pra mim mesmo na hora errada.

Ou que pelo menos diga que vai dobrar na primeira esquina, antes mesmo que eu fique tensa.

Eu queria te dizer uma coisa.

Mas acho que não dá.

acho que vou dobrar na primeira esquina e correr.

É difícil.

Mas talvez, o melhor seja não falar nada.

Ou será que eu já disse tudo?

terça-feira, 9 de outubro de 2007

Par ou Impar ?

Quem inventou a indecisão, só pode ser mesmo uma pessoa muito corajosa. Dessas que teimaram de inventar uma coisa na vida e sumiu do mapa, sabe?

Sumiu mesmo. Sem deixar rastro. Ou talvez, pode ter acabado louca. Porque se ela teve que sumir do mapa, significa que o mapa é muito grande. Cheio de caminhos diferentes.

E a coitadinha, foi inventar de inventar a indecisão. Acabou assim. Louca sem saber pra onde ir.

De repente, ela pode ter parado em algum lugar subterrâneo durante o inverno mais forte no Canadá.

Ou então, comprou uma passagem sem volta lá pelas bandas da Austrália. Ta lá até agora, contando canguru e provando pra todo mundo que canguru não é maioria na Austrália. Tem muito mais malandro no Brasil do que canguru na Austrália.

Será que ela está no Brasil? Em algum hospício abandonado, ou quase tombado? Desses hospícios bem tradicionais, chiques. Que parecem um quadro de um artista impressionista. E é óbvio. O artista só pode ser um louco.

Até hoje essa pessoa passa horas sem saber qual canal vai assistir. Não sabe se come geléia de morango ou biscoito de abacaxi e continua sem entender por que danado ela foi escolher o caminho errado.

Em seus pensamentos, que de loucos, ficaram tão loucos, ela acha que está colhendo maçã em shagri-la. Arrependida por não estar em um daqueles refeitórios cheio de brincadeira de criança na terra-do-nunca.

Quem mandou? Eu acho é pouco. Indecisão e escolha só podem significar uma coisa: dois.

Dois é dúvida, ou no mínimo, um coração partido em dois pedaços.

sexta-feira, 14 de setembro de 2007

Eu invejo o Paralelepipedo.

Eu preciso de uma rima pra fazer poesia.

Uma rima que não rime com nada.

que encontre o por acaso

e seja apenas alegria.

Quem mais precisa de rima pra viver?

Rimar é depender eternamente.

É depender do ritmo incerto de não ter graça.

É depender de tudo, mesmo sem querer nada.

Eu preciso de rima mais do que poesia.

Preciso de uma rima doce. Uma rima constante.

Constante. Presente. E o que pode rimar com poesia?

Eu não preciso de rotina. Ne tampouco que alegria rime com poesia.

Eu preciso de um motivo para encontrar.

Eu preciso da rima que procuro.

Eu preciso saber o que tou procurando.

Acho que a rima se perdeu. Eu perdi o meu motivo pelo ar.

Eu não preciso de poesia. Poesia não rima com amor.

Amor rima com dor.

Pra quê a rima existe?

Ela não vê diferenças entre os opostos.

Quem precisa de rima,

Eu já tenho meu paralelepipedo.

Pra quê mais?

Essa é a melhor rima. A rima que rima sozinha.

Eu preciso de poesia.

Mas não preciso de rima.

Preciso de ritmo.

Mas não preciso de euforia.

Eu preciso de um motivo.

Nem que seja para saber.

Por onde andava essa rima,

Quando eu encontrei você?

segunda-feira, 3 de setembro de 2007

Ratatouille

Sábado passado, o filme Ratatouille passou pela minha cabeça. Aliás, passou pela cozinha.

Não que eu tenha aprendido muito bem a lição de moral explicita do filme. Todo mundo pode cozinhar. Todo mundo pode fazer qualquer coisa, independente da crítica. E de vez em quando, pode até brincar com ela.

Mas poxa. Não sei se eu pude cozinhar, mas acho que ratatouille realmente esteve na cozinha.

Depois de um dia inteiro pensando: é hoje. Hoje. A prometida lasanha. Me deparo com uma vontade quase que forçada de caprichar na receita.

Já que a fome perdoou até agora: por que não ousar?

Quando minha avó cozinhava bem, eu não aprendi uma regra básica com ela. É bom ousar na cozinha, mas antes você deve aprender a cozinhar.

Resultado. Inventei uma receita nova e errei na medida do molho. Errei feio. E do tipo de molho que faz falta.
Ou você inventa, ou arruma uma boa desculpa esfarrapada na hora de servir a lasanha.

Que tal colocar fogo na cozinha? Jogar todas as panelas pela janela?

Já sei. Pega um miojo e diz que a história da lasanha não deu certo. Tava tão cansada que desmaiei na cozinha. Mas o miojo está maravilhoso.

Não foi nada disso. Ninguém desmaiou, nem muito menos saiu batendo panela. Até porque, nenhuma mãe do mundo ia gostar de ver suas panelas voando prédio abaixo como se fossem discos voadores.

O molho acabou. Foi nessa hora que Ratatouille , ou pelo menos o seu espírito baixou na minha cozinha. ( e se você não acredita em espírito conversando na cozinha, assista ao filme).

Ah háa

Sério mesmo. Parecia uma pessoa super experiente querendo se vingar de uma panela.
Inventa um molho branco. Inventa. Agora tem que ser com pouco leite e sem creme de leite.

Como assim? Rato, rato, nem pense em me decepcionar? Como poderia faltar leite em uma geladeira justo agora?

O segredo é esse:

Em situação de emergência, coloque tudo que tiver na geladeira. Tudo.
E vá provando desesperadamente.
Quando você já estiver mais desesperado, pode ter certeza. Vai estar no ponto.

Bem, não sei se essa receita sem receita dá certo, só sei que a minha deu.

Nunca fiz uma lasanha tão gostosa.
Aliás. Nunca fiz nem ovo, nem pipoca, nem pão assado com tanto sabor.


=D

Não sei se o filme tava certo quando disse que todo mundo pode cozinhar. Mas inventar, todo mundo pode.


E se a crítica reclamar,
pergunta se ela pode inventar melhor!

Trema

Era uma vez um trema.

Nasceu luso. Morreu luso.

Nasceu brasileiro. Quase morre.

Mas sou brasileiro e não desisto nunca.

Será?

O trema está com os dias contados.

Mas se depender da sua fé, fé grande como de todo brasileiro.

Pode ter certeza: vai existir vida após a morte.

Não duvide nada se o trema virar reticências.

...

segunda-feira, 6 de agosto de 2007

Gosto, gosto, gosto. E não gosto.

É grande. É chato falar tanto de mim. Mas resolvi aderir ao texto do gosto e não gosto... =)


Gosto de saber que o dia recomeçou.
De ver o sol nascer quanto eu to acordada.
Gosto de trabalhar de madrugada, mas não gosto de levar susto de madrugada.
Não gosto de despedida e nem gosto quando dizem que ninguém gosta.
Gosto de bichinho de pelúcia. Gosto de cachorrinho de pelúcia. Gosto. Gosto gosto. Porque uma linha é pouco pra dizer que gosto muito.
Gosto de tudo que é fofo.
Gosto de pantufa, mas nunca na minha vida ganhei uma.
Gosto quando gostam do que escrevo, mas não gosto do que estou escrevendo.
Gosto das nuvens dos ursinhos carinhosos. Não gosto das nuvens entre as asas do avião.
Não gosto de altura. A minha já é suficiente. Pra quê mais?
Gosto de ver algodão-doce, de ver maçã do amor. Gosto de circo simples. Daqueles que você imagina o tempo todo por que o palhaço está ali fazendo graça , mesmo sabendo que pouca gente gosta. Não gosto de ser braba e impulsiva.
Falando em circo, gosto de ver o sorriso das pessoas que estão vendo. Gosto de pensar que elas são felizes com pouco.
Gosto de Antes do Amanhecer. Que coincidência. Eu gosto bastante de 5h da manhã.
Eu nasci de cinco e pouca. E gosto de saber disso.
Gosto de sonhar acordada. Gosto de dormir e não sonhar. Gosto de ouvir o ronco muito chato da minha irmã quando eu estou com medo do escuro.
Gosto de sorvete, de chocolate, de biscoito. Gosto de salgadinho. Gosto de brincar que nem criança. De sentar no chão e brincar de elefante colorido ou rir com Nome , Lugar e Objeto. Gosto de me sentir independente. Gosto de tapete colorido. Gosto de pés no chão.
Gosto de dizer que o sorvete ta muito gelado. Gosto da palavra piquenique, mesmo sabendo que um dia ela foi convescote. Gosto de me sentir apaixonada. Gosto de boca. Gosto dos olhos dele. Gosto de sinalzinho pequeno no rosto. Não gosto de perder a hora. Não gosto quando pensam mal de mim. Gosto de ficar acordada até tarde conversando. Gosto de virar a noite rindo, sem hora para acordar. Gosto de ouvir Se enamora. Gosto de propaganda fofinha. Toda vez que vejo uma muito boa com bichinho de pelúcia, penso: por que eu não fiz essa?
Gosto do não quando quer dizer sim. Não gosto de falar em público. Mas gosto quando percebo que tem coisas muito piores. Gosto de saber que estou melhorando. Não gosto quando pensam que sou chata , quando sou tímida. Não gosto de ser chata quando sou tímida. Nem gosto de fazer um monte de besteira quando na verdade só quero dizer que te adoro. Gosto de pamonha com queijo, de leite moça com Nescau e de leite sem Nescau. Gosto de ficar sozinha. De pensar sozinha. Gosto de Manuel Bandeira. Gosto muito do poema do porquinho da índia. Gosto do mês de Abril. Não gosto de ter quebrado o pé duas vezes já no mês de Abril. Não gosto de ter sido assaltada no mês de Abril. Gosto de ovo da páscoa. Gosto de chorar vendo desenho animado. Gosto da palavra aquarela. Gosto de demonstrar carinho.Gosto de esconder o carinho. Gosto de ser a irmã mais nova, embora imagine muito como seria ter uma irmã mais nova. Gosto de livro infantil. Gosto do Mingau da Magali. Gosto do gato de botas. Gosto de um colar meu que tem um gato pendurado. Gosto do acaso, quando por exemplo, dei o nome desse gato Clóvis. Não gosto tanto de gato. Gosto de Panda. Gosto do senso de humor de John Cusack. Gosto de pessoas normais. Não gosto de tremer por besteira e achar que todo mundo vai notar isso. Gosto do tapete de piu-piu que minha avó que mora em João Pessoa fez pra mim. Gosto da alegria da minha outra avó quando come pudim. Gosto loucamente de doce. Mais ainda de batata-frita. Gosto de batata sorriso. Gosto de amigos de infância. Gosto de pessoas sensíveis. Não gosto que gritem comigo. Não gosto de ter vontade de chorar toda vez que gritam comigo. Gosto de lençol. Gosto de cabaninha de lençol. Gosto do meu cabelo cacheado quando faço escova. E gosto de cabelo liso quando ele ta cacheado. Não gosto quando a saudade aperta. Gosto de bolha de sabão. Gosto de ler texto grande quando o tempo está arrastado.
Gosto disso aqui:
Quando eu tou sentindo um pequeno aperto no coração, que ainda não sei o porquê (não gosto de aperto no coração), mas escrevo e de repente melhora.

Gosto de saber que são três pras cinco da manhã e jajá o sol vai nascer.


(opa, agora que reli o texto, são cinco e três)

terça-feira, 31 de julho de 2007

Um cheiro na testa

Queria deixar aqui, minha homenagem a um amigo ET, que pegou uma nave espacial na Quinta-feira e foi para um lugar bem distante.

Não é distante o suficiente para eu esquecer os poucos momentos que tive com ele. Mas é tão tão distante que me permite sentir saudades.


Obrigada pelo incentivo de sempre. Obrigada por me chamar de et, e ao mesmo tempo dizer que tou bonita e amarela.

Vai em paz, menino dos cheiros na testa.

=* Nunca vou esquecer o gosto daquele bolo de chocolate que nunca comi. Mas foi um dos melhores.

quarta-feira, 25 de julho de 2007

Marcelo (a), Marmelo (a), Martelo (a)

Marcelo. Marmelo. Martelo.


Pode fazer uma pesquisa. A maioria dos Marcelos e marcelas leu esse livro.

Por sinal, era o de cabeceira quando eu tinha cabeceira. Antes de sequestrarem a minha.


Está aberto o post Marcela, marmela , martela:


Por que esse post é tão idiota?

Por que escurece?

Por que eu tenho 1,80 e mesmo assim adoro bichinho de pelúcia?

Aliás, por que todo alto é meio desajeitado?

Por que João tinha um pé de feijão?

Por que feijão combina com arroz?

Por que feijão com arroz é tão feijão com arroz?

Por que o almoço aqui se chama almoço e o jantar se chama jantar?

O jantar não pode ser na hora do almoço?

Por que Iogurte tem um cheiro tão gostoso? E não tem cheiro de beterraba?

Por que tudo que é gostoso engorda?

Por que engordar não é tão bom quanto crescer?

Por que é mentira que não se cresce mais depois da menarca?

Por que o amor é platônico quando se é jovem e ilusão quando é maduro?

Por que diabos eu tenho que amadurecer?

Pai, eu sou uma fruta?

Por que existem bichinhos de pelúcia?

por que o cachorro late e não mia?

Por que o nome do sonho é sonho?

Quer dizer que se eu dormir e sonhar muito, vou engordar?

por que namorados são tão namorados?

Por que a vida acaba?

Por que eu digo que quero uma coisa pra sempre, se não sou pra sempre?

Sempre não é nada?

Por que existe pergunta pra tudo, se nem sempre se tem resposta?


Quem surgiu antes, a duvida ou a pergunta?

Por que às vezes sou tão boba?


Deve ser por que tenho 1,80.

terça-feira, 24 de julho de 2007

MINGO

Porque Nana é sim minha amiga preferida. Só ela poderia conhecer tanto essa história.

Essa é a história de um cão chamado Mingo,
Que nasceu na prateleira de uma loja do Shopping,
Morou dois dias dentro de uma caixa de presente
E foi viver o resto da vida no colo de uma moça
Entre um sorriso e um abraço.

Ninguém sabia por que raios o cão se chamava Mingo –
aliás, Mingo não era um cão, era um cachorro –
ou melhor, era um cachorrinho.
E tinha que ser mesmo assim, no diminutivo,
com esses olhinhos escuros e esse focinho rosa.
Tinha gente que dizia que era pra rimar com Domingo,
Que é uma palavra que não rima com quase nada.
(Ficava bom danado pra fazer poesia!)
Tinha gente que dizia que foi erro de cartório,
E em vez de registrarem Amigo, registraram Mingo,
Com um N a mais e um A a menos no pacote.
Mas convenhamos, Mingo é muito mais bonito que Domingo,
Amigo, Rex, Totó, Spike, Bingo, Lobinho ou José Paulo.

A dona de Mingo media dois metros e oitenta e sete de altura.
Imagine só como não era complicado descobrir o que a dona sentia,
Visto que não dava pra ver nem sorriso nem lágrima no rosto dela,
e ela não tinha uma longa cauda peluda como ele.
Então Mingo tinha um artifício infalível:
(artifício é quando a gente bola um plano tão esperto
que não dá pra chamar só de plano)
Fazer cara de fofo, rolar de barriga pra cima, fazer olho pidão
e sentar em cima do computador pra olhar de relance o rosto dela.
Então ela dizia “Mingo bonito!” e Mingo ficava todo feliz,
como se fosse de pelúcia, caramelo e chocolate.

A coisa que Mingo mais gostava era de ver a dona escrever.
A dona de Mingo demorava duas horas pra encaixar as pernas,
(Que mediam um metro e oitenta cada uma)
Mais meia pra encaixar os quadris, os braços,
Outra boa meia hora pra curvar o pescoço
E alcançar o teclado pra começar a digitar.
Imagine, eram umas três horas só pra se preparar pra escrever.
Então Mingo, que de tanto esperar sentado em cima do computador,
E de tanto ver letrinhas aparecendo na telinha branca,
Começou a, dentro a cabecinha dele, criar palavrinhas
Além de au, au au, au au au e grr.
Primeiro foi Amor, que é uma palavra bonita e fácil
E todas as outras palavras derivam dela
(derivar é a mesma coisa de “vir de”, mas também quer dizer que um barco se perdeu no meio do mar e tem alguém com coração pequeno na beira de um cais).
Depois ele aprendeu a palavra “Compre”, “aproveite essa promoção”
E “não perca, últimos dias”, porque a dona de Mingo era escritora,
Mas era uma escritora que só escrevia romances sobre uma promoção e uma queima de estoque.

Mingo então passava a noite toda entre um abraço e um último beijo de boa noite, mas nunca conseguia dormir.
Mingo pensava nas palavras, que nasciam e cresciam dentro dele.
(E ele era tão pequeno que ninguém conseguia entender como é que cabia lá uma palavra como inconstitucionalicionalidade.)
Com as noites, Mingo aprendeu que existiam palavras bonitas e feias.
Golfinho. Amêndoa. Céu. Via láctea. Estrela Cadente. Morango.
Eram palavras que chega davam gosto de pensar.
Amiúde. Alhures. Quiçá. Mister. Quinhão. Lixeira com elas.
E foi assim, aprendendo a separar as bonitas das feias,
a vibrar quando encontrava uma proparoxítona e a criar palavras
como quibiriqui, abenaco, ferlim e parafonte,
que Mingo se transformou no primeiro cachorrinho expert em palavras.

Quem é que já viu um cão expert em palavras, meu Deus?
Cão não – cachorrinho!
Quem já viu? Ninguém. Mas a dona de Mingo via sim, todo dia.
E todas as vezes que ela estava em dúvida da palavra que ia vir
Entre um “aproveite” e um “últimas ofertas” ela olhava pra Mingo,
que só com aquele olharzinho de cachorro passava exatamente
a palavra que casasse bem como queijo e presunto num sanduíche.
E assim, Mingo e sua Dona escreveram, escreveram, escreveram,
em cada canto em branco de cada papel do mundo
até cansarem e dormirem entre um abraço e um último beijo de boa noite.

E é assim que acaba a história de Mingo.
Quer dizer, acaba por agora, porque no próximo segundo mesmo
ele e sua dona já estarão começando uma nova história,
cheia de palavras bonitas e enredos mirabolantes
até que acabe a última pontinha em branco de papel do mundo.

segunda-feira, 23 de julho de 2007

E se eu pudesse escolher sonhos em um JukeBox?

Escolha um ritmo.

Algo novo? Um ritmo antigo? Utópico. Platônico. É verdade que os sonhos não têm muita lógica. São as horas mais irracionais das 24 horas do dia.
Mas como seria?
Poderia realizar-se o impossível. Repetir o mesmo sonho, quantas vezes quisermos. Sonhar de acordo com o nosso humor, com a nossa sintonia, com o nosso desejo.
Se é o sonho é apenas um desejo. Então, vamos lá. Sonhar é como escolher cada nota, mas cada nota perdida no inconsciente.

Assim não tem graça. Prefiro sonhar que um dia sonhos podem ser escolhidos no JukeBox.Imagine a sinfonia louca de sonhos em um mesmo lugar. Sonhos de nostalgia, sonhos de chocolate, sonhos de rock pesado, ou sonhos com letras cheias de blasfêmias.

Sonho de um beijo que não existe. Quantas pessoas colocariam mil vezes pra repetir esse mesmo sonho?

Garçons alados. Mesas voadoras. Corações partidos em xícaras de café.

Imagina a quantidade de letras sem significado ia aparecer. Letras românticas que de repente virariam um tratado popular. E quantos iriam ganhar a vida criando dicionários de letras de música.

E se os sonhos fossem divididos em ritmo. Em álbuns. Em ano. Lembra do álbum dos sonhos encantados? Um dos mais tocados é aquele que eu posso voar. E provavelmente, ninguém teria coragem de dizer: o sonho acabou.

E se eu arriscar escolher aquele álbum ali desprezado? Aquele que todo mundo tem medo. Escolhe comigo? Eu não entro jamais em um pesadelo sozinho.

Mais pesadelo poderia significar emoção. Claro. Já parou para pensar que o sonho teria entre 3 a 5 minutos?

Pouco sei sobre sonhos. Mas a verdade é que se eu pudesse escolher mais algum em um Juke Box, iria pedir pra não sonhar.

O imprevisível é bem melhor. É como abrir uma caixinha de música e não saber o que vai tocar.

Faz o seguinte.Tapa meus olhos e escolhe uma música pra mim.

quinta-feira, 24 de maio de 2007

Dois

Era uma vez um menino errante. De tanto errar, de tanto seguir o caminho errado, Errante acabara acertando. Aliás, toda a sua vida sempre fora assim.

Sua mãe sempre quis que ele se chamasse José, mas não consegui convencer seu pai. Então ela sugeriu Pedro. Nada feito.
-Embora meu coração seja de pedra, ainda é um nome muito duro, replicou Indecisão.

Então Dona Maria desistiu de dar um nome. Ela ainda guardava muitas superstições típicas de cidade pequena e quase sem nome (coincidência?). – Na hora certa, no lugar certo, eu vou saber o nome do meu menino sem nome.

Na hora certa, exatos nove meses e um dia, que o menino já hesitara em nascer, Dona Maria esquecera o caminho da maternidade. E agora Seu João?
- Segue a direita ou à esquerda, ou à frente, pode ser pra trás. Só não entro em rua sem saída.
Foi nesse vaivém, dependendo da indecisão, que nasceu Errante. Sem caminho, sem nome e sem hospital. Ele simplesmente nasceu na porta de um veterinário. Não chorou, não reclamou, apenas olhou assustado. Foi quando viu Seu João. Errante abriu o berreiro, como se estivesse reclamando.

- Quanto mede esse menino?

Deve ser 49 cm. Mas também pode ser 49,1 ou é 49,2? Na falta de opção, coloca 49,5.
A vida de Errante sempre foi assim. Um mundo cheio de possibilidades de errar e um pouco de sorte para acertar. Eis a tentativa-erro.

Como no interior dessa cidade pequena, sem nome e cheia de caminhos, tudo tem seu lado bom. Assim, Errante ganhou uma grande virtude. Aprendeu a ser paciente. Ele não era indeciso como seu João, ele apenas esperava, preferia tentar a errar. Preferia errar tentando acertar.
Errante andava em círculos, losangos, quadrados. Era capaz até de confundir as lendas da cidade sem nome, cheia de caminhos e cheia de rostos sem rostos.
Errante descobria tantos caminhos que já não mais conhecia os rostos com quem cruzava.
Mas ele jamais se incomodava. Sabia que nunca ia se perder. Felizmente ele não herdou a maior virtude do seu pai. Errante era decidido.
Errava o caminho e pronto.

Ele sabia que os caminhos faziam parte do mundo de Quem são dois.
Sabia que um caminho nunca era um só, se sempre o levava para outro.

Foi num desses momentos de caminhos contínuos, caminhos cruzados e caminhos perdidos, que Errante descobriu as pegadas.

Ele ficou intrigado com as pegadas. Elas sempre o confundiam. Sempre o limitavam. Ele não queria seguir um caminho predestinado. De repente começou a fazer círculos, retas, caminhos turvos. Queria perder-se nas próprias pegadas.
Ele tinha paciência. Errante tinha o dia inteiro.

Foi nesse momento, nessas tentativas de errar seu próprio caminho que alguém descobriu o seu caminho. Não foi ele. Afinal, errante o confundira tanto, a ponto de deixá-lo feliz. Errante se perdeu tanto que acabou descobrindo o amor. Ou pelo menos, só o amor o descobriu.
Mas só tinha um problema. Essa menina era impaciente. Essa menina era determinada e até predestinada. Ela cruzou o caminho de errante. Ele também sentiu algo inexplicável, mas era muito mais uma sensação diferente de ser descoberto do que sentir amor. Afinal, Errante era tão complicado, que nem a maternidade o achara.

Ele não sabia o que era o amor. A sua vida era cheia de caminhos, mas nunca havia tentado esse caminho. Nunca havia procurado. E justo no dia que Errante estava mais perdido, ele não encontrou. Ele foi encontrado.

Errante começou a sentir uma coisa boa e uma coisa ruim. Sentiu raiva porque o amor para ele ainda não havia sido testado. Ainda era um caminho oculto. Errante precisava antes se perder, para depois se achar.

Mas quem disse que a menina sabia esperar?

A Menina

Era uma vez uma menina que muito entendia, mas pouco sabia. Aliás, das poucas coisas que ela sabia, ela descobria um pouco dela.

Ela era uma menina-meia. Ou uma meia-menina. Cada vez mais que se descobria, ela inventava um novo sentimento.

Um dia simplesmente ela descobriu o vazio, então de lá pra cá, ela começou a ficar mais leve, andar seguindo o vento. E andar seguindo o vento para ela, de repente virou uma vida ao acaso. Cheia de sonhos e fantasias, sem as limitações de ser. Quando a gente é completo, o vento não nos carrega. Alguém sempre está empurrando, esperando. Um par é infinito no sentido de possibilidades, mas único na única certeza de que alguém se perdeu.

Um dia essa menina já quis ganhar flores, já quis ser amada, já quis viver em um filme de amor. Embora, muitas vezes, ela deseje apenas os curtos instantes de adrenalina-consciência de um filme de terror. Então ela descobriu que não se vive apenas de anjos. Por mais vazia, mais incompleta que ela seja, não significa que ela chegará até as nuvens. Simplesmente porque, um peso de tão morto, pode cair no chão. Então essa menina descobriu que ela não é tão vazia, ela é completa no sentido ser anjo e ser demônio.

Essa menina descartou a idéia de ganhar flores. Por que ganhar flores, se ela pode ganhar uma nave espacial? Mas pra quê uma nave espacial, se ela pode flutuar com seu próprio peso de ser vazia? Não se sabe. Ela só descobriu que podia também tentar ganhar o mundo. Então começou uma história, em busca da descoberta de todos os sentimentos verdadeiros, e por que não, a busca dos sentimentos contrários.

De tanto desejar ganhar o mundo, essa menina perdeu milhões de concursos por aí, pelo meio do caminho, treinando possibilidades. Primeiro, ela tentou ganhar uma bicicleta. Mas teve certeza de que o concurso havia sido forjado. Depois, ela quis ganhar uma cozinha completa para sua mãe. Mas no mês anterior, nem a geladeira ela ganhara. Então, essa menina partiu para chocolates, canetas, e até cartas. Mas cansou de tentar ganhar o mundo dessa maneira. Foi assim, que ela começou a colecionar estrelas. A cada dia, o céu dava uma estrela. Em alguns dias, dependendo do humor dessa menina, ela ganhava três. Mas três são uma. Por que essas três, de tão completas, perderam-se em uma só, como uma cruz. Sem pai, sem filho e sem espírito.
A partir desse dia, essa menina traçou uma linha imaginária pelo mundo. Quer dizer, ela não traçou sozinha, apenas teve a idéia, quando ganhou de presente de aniversário, uma estrela cadente. Simplesmente ela dividiu o mundo em duas partes: Quem é um e Quem são dois. Começou a se descobrir um pouco mais a cada dia, até descobrir que ficar sozinha não é tão ruim.

Ela descobriu que tudo que precisa sentir para viver é muito mais físico e racional do que parece. Seus olhos já são dois. São completos e podem criar vida própria. Então, ela descobriu que se um dia chegasse a amar tanto alguém que porventura sentisse ciúmes, olhar para outro não seria nada demais. Afinal, seus olhos são completos.

Já o seu olfato, é outra história. É muito mais uma sensação única que ela estava simplesmente procurando, e não achava como antes fizera seus olhos. Seu pequeno Nariz era um só. Por isso, que outrora ela tanto quis ganhar flores. Ela ainda era muito inocente, e achava que a alma para ser tocada, precisa de mais um. Precisa sentir. A partir desse dia, essa menina começou a colecionar perfumes. Aroma de carinho, aroma de açúcar queimado, aroma até de fim de feira, ou de espirro de filhote de cachorro.

Mas o mundo dividido já estava ficando complicado, cheio de possibilidades. Se olhar não significava nada porque seus olhos já eram completos, o que ela poderia dizer das mãos?

Essa menina já estava começando a desacreditar da estrela cadente, quando sentiu que sua mão na verdade era Quem é um. Direita e esquerda, cada uma com possibilidades diferentes. Desde pequena, essa menina pulava amarelinha com a perna direita, mas só sabia escrever com a esquerda. E muitas vezes, enquanto a mão direita a conduzia para um caminho novo, cheio de tentações e novas possibilidades, a mão esquerda queria continuar andando reta. O pior era a mania das mãos de tentar ser uma só. A mão fechada, impossibilitada de segurar o mundo, aquele grande mundo que essa menina tanto quis ganhar.

Os seus pés também, às vezes imitavam as mãos. Pegadas indistintas. Caminhos ocultos. A menina não acreditava que ambos os lados, a conduziriam a um único caminho. Ela acredita nas diferenças. Sentava na areia e ficava descobrindo cada detalhe de cada pegada, de cada caminho. Mas foi em num dia desses, pensando seguir a pegada direita, das linhas retas e firmes, que ela começou a se desviar, e sem querer, entrou em um mundo cheio de novas possibilidades.

A menina descobriu o amor. Então ela descobriu que a todo custo, mesmo com cada unidade solitária, em cada parte do mundo de Quem é um, as diferenças sempre levam para o mundo de Quem é dois.

O caminho estava errado, a matemática não funcionou, ela não conheceu tampouco a causa. Mas ela descobriu que não há explicação para o que não se explica. Quem é um não pode ser sempre um, por que o mundo é muito grande para apenas duas mãos que nunca entram em acordo.

Quando essa menina descobriu que Quem é um, somado com Quem é um, pode dar dois e ao mesmo tempo um, ela descobriu que pode ganhar o que quiser. Sem concursos.
Pode ganhar Flores, chocolates, verdades e até desilusões. Pode ser completa e ao mesmo tempo vazia, porque virou uma.

Ela descobriu que pelo caminho errado, ela pode ganhar o mundo.